A rua parecia sempre quieta, apenas as folhas das árvores dançavam ao sabor do vento naquela tarde de uma Copacabana suave sem igual. Logo ali, numa janela que permanecia sempre fechada, um olhar morava entre as cortinas de um prédio entediado.
A janela emoldurava a tristeza monocromática de alguém que assim como a fresta, permanecia fechado há muito tempo.Mesmo em festividades coloridas como as de final de ano, onde fogos de artifício saltavam no ar trazendo uma atmosfera de encanto, ainda assim, aquele olhar entrecortado pelas cortinas persistia em uma alegria cinza.
Há muito que esse olhar não enxergava motivos para deixar o papel de observador e poder vivenciar um protagonismo em sua própria vida. Esse olhar estava cansado de todos os outros que haviam desviado do antigo brilho que ali morara um dia.
Certa feita, em uma dessas chuvas de verão, inesperadamente a vidraça da janela quebrou-se com uma ventania forte que chegara para mudar as coisas de lugar. Com o buraco na janela, o olhar não pode controlar o que queria ver ou sentir, mas ficou estranhamente feliz pela bagunça boa proporcionada por essa ventania e pelo remédio displicente que a mesma trouxe para seus dias.
E assim, o olhar deixou que a ventania ficasse, mudou os vidros da janela e o olhar por detrás dela transformou-se numa vidraça de percepções e sentimentos que ele se permitiu sentir a partir do momento em que, assim como a janela, se abriu. Dessa forma, a ventania tornou-se brisa trazendo calmaria e cor para os dias daquele olhar.
Hoje, o olhar e a ventania que se tornou brisa não dividem mais o mesmo endereço. Por muito tempo eles experenciaram momentos incríveis e que estão guardados com carinho na memória deles.
O olhar continua morando no mesmo prédio, hoje não mais visto como entediado. Já a ventania, mudou-se para uma casa, mas não deixa de mandar vez ou outra um cartão postal onírico que faz com o que olhar sorria e sinta uma saudade azul dos dias vividos(e vívidos) ao lado dele.